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Lixão de roupas usadas no Deserto do Atacama pode ser visto até do espaço

Vista aérea do lixão de roupas em Alto Hospício, no Atacama, Chile. Foto: Martin Bernetti (AFP)

Os lixões, formas inadequadas para o descarte de resíduos sólidos diretamente sobre o solo e sem medidas de proteção ao meio ambiente e à saúde humana, são uma triste realidade em diversas partes do nosso planeta. Para piorar a situação, há também os lixões de roupas usadas.

Exemplo disso, é o existente no meio do Deserto do Atacama, na região de Alto Hospicio, no norte do Chile. Por ser uma zona livre de impostos e devido ao fato dos materiais têxteis não serem considerados lixo pela legislação local, o lixão, que já ganhou o apelido de “Cemitério de Roupas Usadas”, tem crescido de forma tão acelerada que já pode ser visto do espaço, segundo anunciou a empresa de monitoramento via satélite SkyFi.

De acordo com a publicação de moda Dazed & Confused, o local já conta com 60 mil toneladas de peças do vestuário descartadas pelos Estados Unidos, Europa e Ásia, aparentando ser um bairro à parte da cidade vizinha, Iquique, que tem uma população de 191.468 habitantes.

Ainda de acordo com a Dazed, todos aos anos chegam ao Deserto do Atacama cerca de 59 milhões de toneladas de roupas vindas da Europa, Ásia e América do Norte. Embora algumas peças sejam reaproveitadas por comunidades pobres locais ou compradas por quem negocia moda de segunda mão, isso não impede o crescimento do acúmulo de detritos no local.

Mulheres recolhem roupas usadas descartadas no deserto do Atacama. Foto: Martin Bernetti (AFP)

A culpa pelo problema, que aliás já foi tema de uma outra publicação aqui no blog, estaria em marcas de fast fashion que, devido à alta rotatividade das suas produções, seriam as responsáveis pelo aumento descontrolado do depósito no meio do deserto, classificado pela Organização das Nações Unidas (ONU), como uma “emergência ambiental e social” para o planeta.

Dados da ONU relativos a 2018, estimam que esse tipo de indústria tenha contribuído entre 2% a 8% de todas as emissões de carbono no mundo. Além disso, quase 85% de todos os materiais têxteis produzidos acabam nos lixões todos os anos, contribuindo para a poluição do ar, do solo e da água.

Para a SkyFi, a situação demonstra uma realidade acerca dos perigos do consumo desenfreado motivado por tendências voláteis. “O tamanho da pilha de roupas e a poluição que está causando são visíveis do espaço, o que torna claro que existe a necessidade de mudança na indústria da moda”, disse a empresa em uma publicação no seu perfil do Twitter.

Outro ponto que chama a atenção acerca do problema é que apenas 15% das roupas que vão parar no deserto são usadas. Destas, aproximadamente 85% são novas, sendo apenas descartadas pelas indústrias por não terem sido comercializadas. A região já sofre, inclusive, com incêndios que contaminaram com gases tóxicos oriundos das fibras sintéticas têxteis os bairros da cidade vizinha (Iquique), prejudicando a saúde dos habitantes.

Por tudo isso, a situação dos lixões, incluindo os de roupas, dizem muito acerca da forma como consumimos, sendo também verdadeiras vitrines para o nosso descaso com o meio ambiente. Além disso, tais espaços chamam a atenção para a necessidade da adoção urgente de medidas efetivas por parte de todos nós e, sobretudo, dos líderes mundiais diante da crise climática global. Maltratamos demais o nosso planeta e a conta desse descaso já está chegando, sendo sempre mais pesada para as populações de países mais pobres.

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