A temporada internacional masculina de primavera-verão/2022 chegou ao fim e nos deixou uma lista de tendências que apontam para um talvez nem tão novo assim dresscode para os homens. É que roupas como shorts curtos e crop-tops apareceram bastante nas passarelas, sugerindo modelagens e comprimentos não usualmente vistos para o guarda-roupa dos cavalheiros. Mas, não pense que isso é novidade!
As coleções e campanhas publicitárias que buscam questionar os padrões de gênero na moda, outra questão que também não é nova, são recorrentes e o assunto já foi abordado aqui no blog. O “novo” em relação ao mostrado em 2021 tem a ver com a intensidade, uma vez que ainda não se tinha visto tantas blusas croppeds, shorts curtíssimos e até short-saias em um número tão grande de passarelas masculinas de grifes europeias de peso.
A italiana Fendi, por exemplo, foi uma das que apostaram na “novidade” e apresentou homens usando modelos variados de croppeds e tops.
A também italiana Prada apostou na mesma vibe e trouxe shorts e short-saias, tudo em comprimento mínimo, remontando ao visual das praias da década de 1970 (com exceção do short-saia). Além disso, a marca apostou em peças com decotes quadrados.
Sobre a Prada, cabe aqui um breve adendo. A maison já havia ousado de modo semelhante na coleção masculina de inverno em 2009. Naquela ocasião, a estilista Miuccia Prada causou o maior estranhamento ao apresentar, sob uma ótica bastante pessoal, homens vestindo roupas com várias conotações femininas: tops curtinhos na altura do umbigo, suéteres justíssimos (tipo uma segunda pele), camisas com golas altas e uma espécie de saiote usado sobre a calça comprida.
Retornando a 2021, saias e short-saias também foram vistos na coleção do estilista independente Rolf Ekroth que explorou o seu interesse no vernáculo de vestidos finlandeses rústicos, dando novos usos a peças tradicionalmente ligadas ao vestuário feminino.
Também revivendo o passado, com inspiração nos anos 70 e 80, a Alled-Martinez trouxe homens de cropped justinho e short esportivo curto e de cintura alta. Um visual que não era visto nos looks masculinos há um bom tempo.
Por fim, destaco a coleção da Moschino para a qual o designer Jeremy Scott buscou inspiração em uma realidade pós-pandemia cheia de otimismo. Se comparada às demais grifes, não se viu o foco nos comprimentos curtos e demais modelagens incomuns para os homens. Na Moschino o diferencial foram as estampas e as cores pouco usuais para os looks masculinos, com destaque para o verde-limão e o rosa, em tonalidades meio fluorescentes.
SINAL DOS TEMPOS
O visual desse homem 2022 mostra-se bastante alinhado às referências da chamada Geração Z, definição sociológica para as pessoas nascidas, em média, entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2000, sucedendo a Geração Y, surgida no final de 1982. A Z é conhecida por sua irreverência e naturalidade na maneira como encara os tradicionais conceitos de gênero e por priorizar o conforto em relação à sua sexualidade e identidade.
Contudo, se é possível afirmar que se trata de uma conquista ver a distinção de gênero perder força na moda, por outro fica ainda mais evidente uma questão não menos importante: comemora-se o fato de ver homens usando roupas tradicionalmente femininas, como croppeds, saias e mini shorts. Por outro lado, grande parte da nossa sociedade ainda se incomoda e se sente afrontada quando o público LGBTQIA+ faz o mesmo. Logo, ver o rompimento das questões ligadas ao gênero, inclusive no mundo da moda, deveria ser uma não-questão, mas ainda precisamos evoluir muito nesse ponto…
Nossa visão ainda é muito machista e presa ao tradicional, em se tratando do vestuário. Achamos natural ver roupas que exibem o corpo feminino. Mas, em se tratando de moda masculina, parece que ainda estamos muito longe de nos libertarmos dos velhos estereótipos do homem másculo e que se veste de acordo com um código pré-estabelecido.
Um Olhar Sobre a Moda 
Um comentário em “O ‘novo normal’ para os looks masculinos?”